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É dos pequeninos? Hã? CHUPA-MOS!

domingo, dezembro 11, 2005

"O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" e "fode-te!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" e o "fode-te" aumentam a minha auto-estima, tornam-me uma pessoa melhor. Reorganizam as coisas. Libertam-me.
"Foda-se, não queres sair comigo?! Então, fode-te!"
"Vais querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! Então, "fode-te praí!"
"E isso aconteceu mesmo? Foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"? "Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
"A Via Láctea tem estrelas comó caralho, o Sol é quente comó caralho, o universo é antigo comó caralho, eu gosto de cerveja comó caralho...", certo?
No género do "comó caralho", mas neste caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!". Nem o "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem. O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.
Aquele filho chato de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo "Jorginho, presta atenção, filho querido: nem que te fodas!". O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD novo que compraste.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um"Puta que pariu!", ou seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos. Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
Já agora, o pomposo e estridente "Cabrão" não se pode deixar de fora. Apesar da sua vertente masculina, o "cabrão" quase possui vida própria. Quando aquele gentil idoso se atravessa na nossa faixa de rodagem sem piscas, quase abalroando tudo o que se atravessa no seu caminho, porque não soltar um "Cabrão do velho!?" para descer á serenidade? Este vocábulo, inclusivé, tem uma conotação amistosa e social de enorme potencial: aquele velho amigo, de longa data, que nos apareçe á frente num Sábado á noite está mesmo a pedir um "Olha-me este cabrão!!! Então, tudo bem?". E o(a) companheiro(a), claro está, sorri.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a suamaravilhosa e reforçadora derivação "vai levar na peida!?". Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Foda-se, já chega! Vai levar no cú, caralho!"
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!" ou "Tá todo fodido!". Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a conduzir bêbedo, sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!".
E assim se fala, em bom Português."
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